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É chegada a hora

Categoria Fé e espiritualidade Luto Reflexão

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É chegada a hora

Com muita autenticidade, Mateus, compartilhou neste texto seus sentimentos, suas dores e seu afetos. Muito ao contrário do que possa parecer para alguns, falar sobre as perdas, sobre a morte e o luto não e mau agouro, não nos vitimiza e, tampouco nos fragiliza. Falar sobre perdas e luto nos traz sempre reflexões importantes que, com certeza, nos fortalece. Como seres finitos e humanos que somos, precisamos estar mais conscientes e preparados para a finitude.


É chegada a hora

Uma amiga me perguntou como estavam as coisas lá em casa após o falecimento de meu pai, há pouco mais de um ano.

“E aí, como estão vocês? Como está sua mãe, sua irmã?”

Para respondê-la pensei na intensidade e frequência dos “apertos no coração” que surgiram ao longo desse tempo sem ele.

Disse-lhe, então: “Graças a Deus está tudo bem com a gente. Há momentos que as lembranças são mais fortes, mas caminhamos bem”.

Nesse mesmo dia ela partilhou comigo sobre seus sentimentos, após alguns anos de uma perda traumática. Por isso, essa reflexão dedico a ela e a todos nós que ainda vivemos o tempo do luto.

Especialistas nessa área estimam um tempo médio para esse momento tão importante em nossas vidas. Alguns chegam até a dividi-lo em estágios.

Porém, o intuito aqui não é de concluir sobre o tempo ideal. As perdas são das mais variadas; algumas mais traumáticas do que outras e, portanto, possuem suas particularidades e períodos também assim, particulares.

Mas algo é certo: despedir-se é essencial!

“Despedir”, do latim, vem “expetere”, que significa “empurrar”, “mover-se com impulso”, “lançar com força para fora”.

Perceba que todos esses significados são associados ao movimento físico, à força, ao ímpeto de uma ação.

Pode nos parecer rude essa definição, mas, ao mesmo tempo é carregada por um sentimento doce. Algo duplamente paradoxal: além da rudez e doçura, lançamos para fora algo que ainda se mantém dentro de nós.

Em uma bela música, Saudades, o autor expressou: “A saudade é o amor que fica”.

Defini esse momento de perda como um “rasgão no peito”. Sim, era uma sensação que vinha tão forte e frequente nas primeiras semanas que não tinha outras palavras, senão essas, para descrever. Doía, doía muito a ausência de meu pai.

Havia momentos que gostaria de apenas sentar ao lado dele e perguntar como estava ou simplesmente contar sobre algum lance bonito que vi no futebol.

Ao longo dos meses essa “dor doída” foi sendo substituída por lembranças mais serenas, mas, às vezes, regadas por gotas nascentes das janelas de minha alma.

Cessamos ou diminuímos muito em nosso corpo os sentimentos intensos e profundos.

Mas, se a saudade é o amor que fica, como deixaríamos sair de nosso coração um pedaço sequer de algo que não pode, por natureza, ser fragmentado?

Um Amor verdadeiro, puro, único e divino mesmo partilhado nunca se diminui, não se reduz a pequenas e insaciáveis migalhas. Ele permanece inteiro naqueles que vão e nos que ficam.

Portanto, é necessária uma despedida, mesmo após tempos passados da partida.

Uma decisão madura e consciente que nos planta na realidade. Conscientes para continuar nossa missão sem, porém, nos desvencilhar de nossas origens.

Heranças muitos deixam para nós, mas legados de amor, deixam em nós.

A árvore está plantada, as raízes estão profundas e os pés, firmes para caminhar.

Fique em paz e, sem medo, deixe-o partir. É chegada a hora.

Cessar o luto não é cessar o Amor.


 

Mateus Rodrigues Silva

Professor de Biologia e Terapeuta

Instagram: @mateus_bio

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